[Volta de apresentação] Audi TT RS

Pimenta. Tem gente que aprecia uma boa pimenta. Outros preferem se ater a algo menos condimentado. Sem sal mesmo. Tampouco pimenta. Para os últimos, recomendo distância do Audi TT RS, versão mais quente do cupê germânico, que chega às revendas brasileiras por módicos R$ 424.990. Agora, quem adora a ardência de um bom jalapeño irá amar os predicados e, até mesmo, os defeitos do 2+2 enfezado.

A reportagem teve a oportunidade de guiar o cupê no Autódromo José Carlos Pace, comumente conhecido como Interlagos. Na pista deu para notar que, de fato, o Audi TT RS enerva todas as outras configurações do modelo. Até mesmo o TT S parece um menino sem chocolate, tristonho, em dia de prova sem ter estudado uma linha sequer se comparado ao irmão mais atrevido.

Audi TT RS tem motor de 400 cv e tração integral

Por quê? Muito por conta do motor 2.5 turbo FSI de cinco cilindros em linha. Totalmente retrabalhado, teve seu peso reduzido. Bloco e cárter de alumínio ajudaram a tirar 26 kg de gordura em relação ao anterior. A potência máxima entregue é de 400 cv entre 5.850 e 7.000 rpm; 40 cv a mais que o predecessor. O torque é de generosos 48,9 kgfm, isso já a partir de 1.700 rpm.

Apesar de não mais contar com opção de transmissão manual de seis marchas (o que é uma pena), o novo Audi TT RS vem com câmbio S Tronic de dupla embreagem e sete velocidades. A tração segue integral. Segundo a Audi, o modelo vai de 0 a 100 km/h em 3,7 segundos e atinge máxima de 250 km/h, limitada eletronicamente.

O sistema de tração integral distribui o torque entre as rodas dianteiras e traseiras conforme as configurações de pilotagem. Em Interlagos, num primeiro momento, usamos o modo Dynamic. Nele, a força é aplicada com mais, digamos, intensidade nas rodas traseiras. O grip, por conta disso, impressiona. Nas curvas, o Audi TT RS “se agarra ao asfalto” com vontade. Até mesmo um condutor sem quaisquer aptidões para as pistas (como este repórter) não tem dificuldades de manter o veículo no prumo.

Tração integral é marca registrada do Audi TT RS

A traseira não ameaça, em momento algum, aquela fugidinha. Com certa perícia dá para fazer uma brincadeira ou outra, mas a atuação eletrônica é tão primorosa que acaba dificultando a missão. Isso frustra um pouco alguém que gosta de um carro de tração traseira capaz de dançar e maravilhar exatamente por isso. Não dá para detonar os pneus em poucas voltas tal qual num Mercedes-Benz devidamente “futucado” pela AMG.

No entanto, não há nada mais divertido que o rosnado do motor cinco cilindros. As explosões na descarga nas trocas de marcha te deixam completamente alucinado. O som adentra o habitáculo e convida o condutor a afundar cada vez mais o pé no acelerador. O barulho é um opiato, um convite à velocidade. O autor deste texto foi capaz, mesmo sem lá muita perícia, de atingir 247 km/h na reta dos boxes. Daí, há o corte eletrônico. Mesmo assim, a sensação é indescritível. A direção, de respostas bem diretas, também ajuda na hora das pequenas correções por conta de imperfeições na pista e, claro, a realizar curvas de maneira eficiente.

‘Comfort’?

Para conter todo o ímpeto do Audi TT RS, o fabricante instalou freios a disco nas quatro rodas. Na dianteira são perfurados. As rodas são de liga-leve 19”. Os pneus, 245/35. O conjunto de suspensão foi devidamente preparado para desempenho esportivo. Aliás, nem mesmo no modo Comfort transmite conforto ao condutor. Todas as irregularidades são transferidas. Todas mesmo.

Outros pontos negativos são assento (que incomoda os mais gordinhos) e visibilidade. A posição de dirigir é muito baixa, pessoas mais altas têm dificuldades ao adentrar o veículo e não há espaço interno. No entanto, até mesmo os “defeitos” podem ser apreciados por quem realmente anseia por um esportivo de estirpe. O uso diário, de fato, não é recomendado. A não ser que você frequente algumas aulas de pilates durante a semana.

Conforto é escasso no Audi TT RS, mas há muito luxo

O acabamento, contudo, é excepcional. Os materiais são de excelente qualidade e os encaixes são primorosos. O Virtual Cockpit, também presente no TT, está lá, com todas as traquitanas que o fazem sentir num carro de corrida. Há, inclusive, como gravar os tempos de volta por meio de aplicativo, que pode ser baixado no seu smartphone. O sistema de som Bang & Olufsen com 12 alto-falantes, o repórter admite, não foi testado. Também pudera. Quem vai querer ouvir A hora do Brasil enquanto pode escutar o rugido de uma nave dessas?

Virtual Cockpit do Audi TT RS

Em resumo: Tem R$ 425 mil? Quer diversão? Adrenalina? Endorfina? Compre, sem culpa, um Audi TT RS. Agora… Se você quiser um carro para ir à padaria, para curtir um enfadonho engarrafamento, pode levar para casa um SUV anódino, genérico e sem alma. Tão sem sal quanto comida de hospital.

Observação: A reportagem optou por não tecer comentários acerca do design do modelo. Como o leitor pode muito bem ver nas fotos, ele é lindo.

Fotos: Audi/Divulgação

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