Augusto Farfus: existe vida fora da Fórmula 1

No país que se orgulha de ter três campeões mundiais de Fórmula 1 – Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna – é difícil não estabelecer o sucesso no esporte a motor sem relacioná-lo a conquistas na maior categoria do automobilismo mundial. Mas casos como a do paranaense Augusto Farfus mostram que, sim, “existe vida fora da F1”, como falou o piloto de 35 anos em entrevista exclusiva à EXAME VIP.

Depois de diversas conquistas no kart, o brasileiro foi para Europa e conquistou títulos expressivos como da F-Renault e da F3000 – mas, mesmo sem ter uma chance na F1 com tantas credenciais, acabou se estabelecendo como um dos principais nomes das categorias de carros de turismo, como a DTM (a Stock Car alemã, onde venceu 14 vezes) e as competições de GT – foi campeão mundial em Dubai no ano passado e já venceu 24 Horas lendárias como Daytona e Nurburgring.

Até o lado empresarial o piloto iniciou carreira – lançou as pulseiras “Mongrip”, feitas com pedaços de pneus usados por grandes nomes do automobilismo mundial. Confira a entrevista completa:

Pergunta: você mostra que existe vida para um piloto brasileiro fora da Fórmula 1. Como você vê o seu momento atual da carreira após conquistas em Daytona, Austrália e várias outras pelo mundo?

Augusto Farfus: A carreira de piloto é feita de momentos altos e baixos, então nós aprendemos no decorrer dos anos a lidar com as derrotas, aprendemos com elas e alcançamos algo maior. E assim vem sendo a minha carreira, vim de algumas temporadas difíceis no DTM, onde optei no ano passado por deixar a categoria para me dedicar aos outros programas da BMW. Acredito que tenha sido o caminho certo, no final de 2018 eu venci a Copa do Mundo de GT, em janeiro desse ano eu venci as 24 Horas de Daytona, então existe uma boa vida fora da F1.

Erroneamente, muitos brasileiros acabam pensando que para um piloto se tornar profissional, ele tem que correr de F1. Isso hoje em dia é justamente o contrário, já que existem muitos pilotos que são pagos e contratados pelas montadoras para correr em outras categorias, bem mais do que pilotos que efetivamente são pagos para correr de F1. Há muito tempo atrás eu tomei essa decisão de abandonar esse caminho da F1 e me sinto muito feliz por isso.

Acha que o brasileiro ainda é muito ligado na F1? Como a falta de brasileiros na categoria afeta a popularidade do esporte a motor?

O brasileiro ainda é muito ligado com a F1 por causa de toda a história que nós temos de sucesso e que o Brasil construiu ao longo do tempo com a F1. Eu acho que o Ayrton Senna foi o melhor exemplo que nós já tivemos e sem dúvida não ter brasileiros correndo na F1 prejudica o interesse dos brasileiros pela categoria.

Mas, por sua vez, acaba aumentando o interesse dos brasileiros por outras categorias no mundo afora. O brasileiro, em geral, é muito apaixonado por carro de corrida, por carros em si, então automaticamente o brasileiro acaba sempre seguindo e acompanhando o que os conterrâneos estão fazendo em outras categorias, como é o meu caso. Hoje nós temos muitos brasileiros brilhando em categorias paralelas de uma forma fantástica.

Fora das pistas, você lançou uma coleção de pulseiras que tem tudo a ver com corridas. Como nasceu essa ideia?

Essa coleção começou no ano passado com a Mongrip. Na verdade é uma ideia minha em conjunto com o meu sócio, então nós criamos e patenteamos essa maneira exclusiva e única de tratar um pedaço de pneu de carro de corrida e fazemos ele virar uma pulseira. Não é uma pulseira qualquer, é um objeto precioso, nós iremos até usar nas próximas coleções alguns materiais preciosos: ouro, platina, titânio e etc. Vamos tornar realmente uma joia e é um produto que tem uma história: são todas as pulseiras feitas à mão e é um produto que tem tudo a ver comigo, com a minha história no automobilismo.

Qual amante do automobilismo não gostaria de ter em seu braço uma pulseira feita com o pneu que um grande nome do automobilismo utilizou? Nós temos vários pneus de praticamente todos os grandes nomes de pilotos que já andaram na F1 e com o decorrer do tempo nós iremos lançar edições especiais, onde o fã poderá ter no seu pulso um pedaço real e autêntico de um grande nome do automobilismo nacional ou internacional, como uma joia. A pulseira vem fazendo muito sucesso aqui na Europa, todo mundo vem gostando dela, e fico feliz de poder transmitir meus anos de automobilismo também para o público em geral.

Pretende ainda correr no Brasil?

Correr no Brasil? Por que não? Eu participo com uma certa frequência da Stock Car no Brasil. É uma categoria espetacular e que eu costumo acompanhar de perto, mas hoje em dia o meu foco é praticamente 100% na Europa. Eu moro aqui fora (do País), minha família está aqui, minhas crianças estudam aqui, então acaba sendo difícil de ter uma atuação (fazer a temporada) na Stock Car. Mas quem sabe no futuro próximo eu possa entrar nesse grid, que é extremamente competitivo, com pilotos altamente talentosos e as portas continuam sempre abertas para mim.