Falta de componentes eletrônicos mina produção global das montadoras

Engana-se quem pensa que as más notícias para o setor automotivo cessariam com a saída da Ford do Brasil. Não bastasse a alta carga tributária do país — uma das razões que motivaram a pioneira americana a encerrar a produção por aqui –, a falta de insumos coloca dificuldades para a fabricação de veículos nas montadoras, uma crise que ocorre em nível global. Em tempos normais, a escassez de peças seria resultado de uma procura maior por automóveis, mas a causa desse fenômeno específico está na comercialização de celulares e notebooks. No Brasil, a Honda anunciou nesta terça-feira, 23, a suspensão temporária da fabricação do modelo Civic na fábrica de Sumaré (SP), por “problemas na cadeia global de suprimentos”. A interrupção inicial aconteceu entre 5 e 12 de fevereiro, e as máquinas serão novamente desligadas entre 1° e 10 de março.

Em função da disparada nas vendas de eletrônicos, a demanda por chips e semicondutores — fundamentais para o sistema multimídia dos veículos — subiu exponencialmente, e faltam peças no mercado. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as concessionárias tinham apenas 18 dias de estoque no mês de janeiro. Os licenciamentos, por sua vez, caíram 11,5% em relação ao mesmo período de 2020.

Analistas da IHS Markit, empresa britânica de informações e serviços financeiros, acreditam que 1 milhão de carros deixarão de ser produzidos pela escassez de componentes no mundo inteiro.

Na Europa, a Renault avalia que a falta de componentes pode provocar uma redução de 100 mil veículos produzidos no ano, e pode suspender a produção em uma fábrica na França e em duas no Marrocos e Romênia. Na mesma linha, a Fiat Chrysler vai frear o reinício da produção no México e deve programar suspensões na fábrica canadense de Ontário. Até mesmo a Ford precisou paralisar as montagens no Kentucky, nos EUA, pela escassez de semicondutores.

Em situação ainda mais grave, a Audi irá suspender os contratos de 10 mil funcionários a nível global em função da paralisação de suas fábricas. A Volkswagen, fabricante do mesmo grupo, prevê que a falta de insumos pode custar 100 mil automóveis a menos apenas nos quatro primeiros meses do ano e que, por essa razão, irá reorganizar as linhas de montagem na América do Norte, Europa e China. 

A expressiva procura por chips e semicondutores também pode impactar a fabricação de eletrônicos, como Playstation 5 e IPhone 12. Além dos preços, que podem subir, a entrega de modelos dos telefones que são o carro-chefe da Apple precisou ser limitada. Por outro lado, os consumidores já enfrentam dificuldades para encontrar os consoles da nova geração da Sony nas lojas. A explicação para esse colapso no mercado não está apenas na alta demanda pelos equipamentos, mas também nas sanções aplicadas pelo ex-presidente americano Donald Trump à China. Gigantes de tecnologia, como a Huawei, estocaram os componentes e aumentaram a pressão sobre a oferta. Pegas no meio disso tudo, esse é mais um dos inúmeros desafios que as montadoras vão ter de superar para garantir a manutenção de suas atividades no país.

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