GM está pronta para apanhar dos rivais de Trump em debate nos EUA

Nos Estados Unidos, esta é a semana de novos debates entre os pré-candidatos do Partido Democrata à Casa Branca. São mais de 20 políticos disputando o privilégio de enfrentar Donald Trump em sua tentativa de reeleição, em novembro de 2020.

Nesta terça (30) e quarta (31), o evento é organizado e transmitido ao vivo pela CNN; são dois grupos de dez candidatos em cada noite. Três coisas são certas: 1) o principal assunto será saúde pública; 2) Trump vai ser unanimemente criticado; e 3) a General Motors vai tomar muita paulada também.

O fato de os debates serem sediados em Detroit, onde fica a sede da GM, certamente vai aumentar a temperatura dos discursos repudiando os cortes de vagas praticados pela empresa devido à extinção de vários modelos (como Chevrolet Cruze e Impala); coincidência ou não, justamente na quarta-feira será fechada a fábrica de transmissões em Warren, a minutos do centro de Detroit.

Segundo comunicado da GM no final do ano passado, a reestruturação da companhia levaria ao corte de 15 mil empregos, sendo 8.000 de funcionários assalariados.

Durante sua campanha, em 2016, e mesmo depois de eleito, o presidente Trump deu declarações sugerindo que sua gestão impediria a sangria de empregos das montadoras, particularmente da GM. Numa visita a Warren, em outubro daquele ano, disse que ninguém ali seria demitido.

No entanto, com o governo já dominado pelos Republicanos, as ameaças de tarifar carros produzidos fora dos EUA, inclusive os que vêm do México, não passaram disso: ameaças. E essa era a medida mais factível, porque dependia apenas de ordem executiva de Trump, sem precisar passar pelo Congresso (a famosa “canetada”).

No Twitter, Trump criticou a CEO da GM, Mary Barra, pelo fechamento da fábrica de Lordstown, onde era feito o Cruze; a unidade acabou vendida para uma fabricante de picapes elétricas

No Twitter, Trump criticou a CEO da GM, Mary Barra, pelo fechamento da fábrica de Lordstown, onde era feito o Cruze; a unidade acabou vendida para uma fabricante de picapes elétricas

O caso da GM é especialmente polêmico porque a companhia foi salva da falência pelo Tesouro dos EUA, que injetou nela cerca de US$ 50 bilhões, em 2009. A contrapartida foi a entrega ao governo de 61% das ações da GM, que foram vendidas em 2014 com prejuízo de US$ 11,2 bilhões. Tudo isso, como gostam de dizer os americanos, em “taxpayer dollars”.

Os ataques mais duros à GM na noite desta terça devem vir de Bernie Sanders, senador por Vermont e o único na disputa que se assume como socialista democrático, e de Elizabeth Warren, senadora por Massachussetts que se alinha em praticamente tudo com Sanders; ambos têm posições mais à esquerda que a média dos pré-candidatos e incluem críticas às grandes corporações nos discursos.

O deputado Tim Ryan, mais moderado, representa Ohio, que teve a fábrica da GM em Lordstown (onde era feito o Cruze) fechada — e por isso espera-se que também mencione a GM em suas intervenções.

Joe Biden (esq.) visita o Salão de Detroit de 2017

Joe Biden (esq.) visita o Salão de Detroit de 2017

Na quarta, o atual prefeito de Nova York, Bill de Blasio, e talvez a senadora Kamala Harris, da Califórnia, devem se encarregar das críticas mais enfáticas — não porque o assunto já não se terá esgotado na noite anterior, mas porque dividem o palco com o centrista (e atual favorito à indicação) Joe Biden.

Como vice de Barack Obama, Biden foi um entusiasta da ajuda financeira à GM. Aliás, na campanha de Obama à reeleição, em 2012, cunhou uma frase histórica: “Bin Laden está morto e a GM está viva”, disse, ressaltando dois feitos de seu chefe (que, como se sabe, acabou reeleito). Na noite de quarta, em Detroit, Biden terá de defender esse legado.

O debate começa às 21h (horário de Brasília), e poderá ser acompanhado ao vivo no site da CNN.

(Foto do alto: Joe Biden, então vice-presidente dos EUA e hoje candidato a presidente, a bordo de um Chevrolet no Salão de Detroit de 2017, observado por Mark Reuss, atual presidente da GM)

 

Claudio de Souza é jornalista desde 1994 e atua no setor automotivo desde 2007. Ex-editor de UOL Carros e Carro Online, ele recebeu o prêmio SAE de jornalismo online em 2011. Em sua visão, carro tem de ser bom, e não apaixonante. Baseado nos Estados Unidos, discute nesta coluna os assuntos globais da indústria e do mercado.
Contato: 
claudio.souza@carsale.com.br

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