Trump quer acabar com o desconto para carro elétrico

O assunto da semana aqui nos Estados Unidos é a proposta de orçamento do governo de Donald Trump para 2020. Contrariando promessa de campanha feita pelo presidente, a peça quer cortar fundo na rede de proteção social — saúde pública, previdência federal, benefícios do tipo Bolsa Família — ao mesmo tempo em que aumenta significativamente os gastos militares.

Trump também quer reservar cerca de US$ 8 bilhões para construir o famigerado muro ao longo da fronteira com o México.

A chance de o orçamento trumpiano passar no Congresso desse jeito é zero, já que o Partido Democrata controla a Câmara dos Deputados desde a eleição de 2018. Em geral, os parlamentares dão uma banana ao presidente de turno (seja quem for) e aprovam um orçamento mais equilibrado e, na medida do possível, consensual entre liberais e conservadores.

Uma das maldades inseridas pela equipe do presidente na proposta de orçamento, porém, tem alguma chance de emplacar, passando quase despercebida no meio de tantas outras: trata-se do fim do subsídio ao carro elétrico.

Atualmente, um comprador americano desse tipo de veículo tem direito a até US$ 7.500 de desconto, o qual é bancado pelo governo por meio de créditos fiscais. Estima-se que, entre 2018 e 2022, o subsídio total será (ou seria) de US$ 7,5 bilhões.

Há limitações: quando a montadora atinge 200 mil carros elétricos vendidos, o incentivo é encerrado. É o caso de Tesla e General Motors, que já estouraram o limite.

O argumento da administração republicana passa pelo corte de custos, mas na verdade o fim do apoio aos carros elétricos faz parte de uma ofensiva anticientífica mais ampla, com ataques ao financiamento da EPA (agência de proteção ambiental equivalente ao Ibama), a revogação de regulamentações industriais que protegem ar, água e demais recursos naturais dos Estados Unidos, e a saída dos EUA do Acordo de Paris.

O objetivo é (ou seria) soltar as amarras da indústria, particularmente a de combustíveis fósseis, e então bombar a economia.

Parte da oposição ao fim do subsídio dos elétricos vem exatamente da indústria mais icônica dos EUA, a automotiva — que já investiu bilhões e bilhões de dólares no desenvolvimento de uma mobilidade eficiente e menos agressiva ao ambiente.

Claro que é politicamente conveniente associar o subsídio para carros elétricos a uma figura intragável como Elon Musk, CEO da Tesla, ou a produtos malsucedidos, como o moribundo Chevrolet Volt.

Mas a popularização do carro elétrico nos EUA é fundamental para a assimilação local de uma nova matriz energética que promete dominar alguns dos maiores mercados automotivos (China, Europa e possivelmente a Índia) nas próximas décadas. O risco para os EUA é, basicamente, ficar de fora de um fluxo global de capitais que promete ser crucial neste século.

Resta torcer para que o bom senso prevaleça no Congresso dos EUA. Na Casa Branca, como já está claro, isso não existe.

Claudio de Souza é jornalista desde 1994 e atua no setor automotivo há mais de dez anos. Ex-editor de UOL Carros e Carro Online, ele recebeu o prêmio SAE de jornalismo online em 2011.
Em sua visão, carro tem de ser bom, e não apaixonante. Nesta coluna, discute semanalmente assuntos globais do setor automotivo.
claudiodesouza.colunista@gmail.com

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